terça-feira, 7 de dezembro de 2010

PONTUALMENTE

Primeiro, estendeu-lhe a mão
Depois, beijou-lhe a face
No momento seguinte, enfiou-lhe uma faca nas costas
Para, finalmente, servir o chá.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

RUPTURA

Minha roseira virou ruína.
De que vale todo o meu rompante
Se até o resto me rechaça?
O pior é que me retorço,
Desfaço-me em retalhos.
Repagino o rótulo e
Até retoco minha retórica,
Mas meus recados rebeldes
Só me trazem mais rusgas.
Apagou-se meu talento para rimas.
Das reverberantes risadas,
Restaram roucos ruídos.
Em meu rosto, seguem os ranços
De todas as minhas réplicas.
Nem mesmo as cores de Rembrandt
Ou as palavras de Rimbaud
Fariam reluzir meu retrato.
Mas viver não é ruminar.
Viver é ter sabedoria para reformular o roteiro
Toda vez que ressoarem as ranhuras.


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

POSTURA


Seu caminho você que escolhe
Não chore
Não implore
Não demore
Senão o mundo te tolhe
O medo te encolhe
E a vida te engole

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

VIDA POENTE


Uma voz abafada,
Um desvelo ausente
Num murmúrio dolente.
De que vale um reconhecimento silente
Se apenas amarga os corações descrentes
Com sensações incongruentes?
O que seria das flores
Não fossem as sementes?
Ou mesmo dos sorrisos
Não fossem os dentes?
Melhor uma dor que se sente,
Porque até com ela se aprende,
Do que o vazio de uma vida poente.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

MEU CAVALO E NOSSAS ESCOLHAS


Amarrei meu cavalo em uma árvore
Alta, verdinha e respeitosa,
Frondosa como poucas...
Suntuoso chapéu natural
A nos proteger das intempéries.
Até que vivíamos bem,
Eu e meu cavalo.
Desgraçadamente, mesmo sentindo
Todas as particularidades da planta
Em franca conspiração a nosso favor,
Não conseguíamos gostar de seu fruto.
Várias vezes pensamos em abandonar
O seguro e acolhedor abrigo.
No entanto, em laudável ato de bom senso,
Ponderávamos sempre:
É possível ter tudo?
Foi o que nos salvou!