quarta-feira, 21 de novembro de 2012

ELEGIA À MUDANÇA


Como é bom ter na vida desenganos
Como é bom ter desencantamentos
Como é bom mudar de planos
Como é bom se dar um tempo

Como é bom cruzar o rio
Como é bom o entre águas
Como é bom ter desafios
Como é bom superar traumas

Como é bom ter desilusão
Como é bom abrir a mente
Como é bom sacudir o coração
Como é bom pensar diferente

Como é bom abafar a emoção
Como é bom o travar do dente
Como é bom aprender a lição
Como é bom seguir em frente
 

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

HUMANA(MENTE)

Tenho medo da sombra
Tenho medo da luz
Tenho medo do pagão
Tenho medo da cruz
 
Tenho medo pelo que rogo
Tenho medo do que não peço
Tenho medo do fracasso
Tenho medo do sucesso
 
Tenho medo do que é santo
Tenho medo do que é pecado
Tenho medo do frouxo pranto
Tenho medo do pranto abafado
 
Tenho medo do azar
Tenho medo da sorte
Tenho medo da vida
Tenho medo da morte
 
Tenho medo do que reverbera
Tenho medo do que é mudo
Tenho medo do nada
Tenho medo de tudo

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

UM DESENCONTRO REAL

                       
                         Desejando percorrer com os cinco sentidos aquele espectro de possibilidades, não deixava o pássaro partir, mesmo admirando seu voo. Aquela tez branca, os olhos de esmeralda e as finas madeixas multicor, emolduradas pelos sopros de Deus, davam à causa uma complexidade ainda mais tônica. Se pudesse escolher, certamente se vestiria com aqueles trajes rebeldes e despretensiosos; entraria naquela cápsula arredia sem data marcada para retorno, mordiscando-lhe as orelhas, respirando junto a sua nuca e perdendo o eixo na comissura de seus lábios. Foram anos e anos teclando amenidades, intimidades, amores e desencontros. Vicente bem que tentara, mas Cecília nunca lhe concedeu um encontro real. Assim, foi condenado a se alimentar de um sonho desiludido, vivendo a realidade paralela das sensações idealizadas, da sintonia perfeita. E Cecília? Bem, Cecília continuou a caminhar pra frente, tanto quanto Vicente, embora jamais tenha privado seus olhares do vasto e colorido campo de visão lateral.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

ENFIM, ISABELLE!




                  Agora parece ser definitivo: Isabelle finalmente conseguiu despejar os pesados fardos amorosos que carregava. Nunca entendeu, ao certo, por qual motivo suas histórias sempre acabavam mal. Depois de um longo período sabático, refletiu que, talvez, seus envolvimentos pretéritos tenham fracassado por seu excesso de doação. Então, decidiu virar o jogo. Chega de mimos e transparências reveladoras em inícios de relacionamentos, pensou ela. Enfim, aquela mulher sensível, linda e inteligente recobrara sua plenitude. Estava confiante e segura de si; parecia mesmo outra pessoa. O estranho foi observar sua dedicação e sua doçura repentinas, após tantas promessas íntimas, a mimos anteriormente renegados; ela estava fazendo tudo o que tinha resolvido banir – preparava, com amor, cada refeição dele, arrumava sua cama, gastava horas com 'conversinhas moles' e brincadeiras. Das duas uma: ou ele merecia muito aquela devoção toda ou sua transformação causara uma firmeza tão inabalável que foi capaz de mudar diametralmente o seu ponto de vista; pode ser que, agora, ela estivesse conseguindo se dar sem se doer. Aquela situação era simplesmente uma grande incógnita, quase como um objeto sem sombra na mais escancarada das manhãs de sábado. Especulações à parte, o fato é que Ulisses era mesmo um labrador de sorte – apenas ele conheceu a melhor das 'Isabelles', harmoniosa, meiga e convicta.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

VOCÊ É BOLO COMUM?

A todo instante, a vida nos surpreende com situações inusitadas. Muitas vezes, discutimos, brigamos, aborrecemo-nos, decepcionamo-nos e, no momento seguinte, arrependemo-nos, perdoamos, fazemos as pazes. Elaboramos conceitos complicados sobre coisas e pessoas e, simplesmente, mudamos de opinião. Abandonamos cursos, acabamos namoros, engatamos novos relacionamentos, tiramos pedras do caminho, perdemos pessoas queridas, fazemos amigos e também os deixamos partir. Tudo isso faz de nossa experiência um caso isolado, uma trajetória sem precedentes, um caminho trilhado a partir dos nossos erros e acertos.

Somos seres absolutamente distintos vivendo em um mundo feito sob uma medida específica – “tamanho único”. Assim, modelamos nossa natureza primitiva e até conseguimos racionalizar nossos instintos, como forma de tentar conviver socialmente em um espaço sem variações – “P”, “M” ou “G”. Mas viver transcende os limites da razão.

Mesmo sendo educados para viver em conformidade com uma série interminável de ditames sociais, quebramos regras, excedemo-nos, violamos princípios, esquecemo-nos de pensar no próximo e ultrapassamos as fronteiras da moral e da ética.  Ok! Somos, segundo os valores cristãos, pecadores, pois não conseguimos viver em harmonia com aqueles mandamentos que, antes de figurarem como máxima religiosa, representam verdadeiras normas de conduta, regras do bom viver.

Pecamos sim, é verdade. No entanto, nossos pecados não são análogos, uma vez que somos seres diferentes pela própria natureza. Não carregamos a mesma carga genética, não fomos criados pela mesma família, não estudamos no mesmo colégio, não tivemos os mesmos amigos, não levamos os mesmos tombos, não quebramos a cara com as mesmas coisas.

Assim, toda teoria que generaliza demais fraqueja! Sim, repetimos comportamentos, mas isso não nos torna iguais. Respiramos, alimentamo-nos, bebemos água, excretamos e secretamos substâncias, dormimos, eliminamos gases, suamos, amamos, desamamos, choramos, sorrimos, nascemos e vamos morrer um dia. Ainda assim, não somos seres idênticos.

Por tudo isso (e muito mais), abomino os comentários genéricos, pois levam sempre ao geral, a características/elementos/teses supostamente universais.  Se a verdade se resumisse a essa aparente simplicidade, viveríamos vidas previsíveis e medíocres; todos os cachorros seriam amigos, todos os gatos traiçoeiros, todas as mulheres interesseiras, todos os homens “galinhas”, todos os homossexuais extravagantes, todos os políticos corruptos e todas as guerras seriam santas.

Qual graça teria a vida? Viver assim eliminaria a nossa essência de singularidade; seríamos produzidos em série, com extensos códigos de barra e um único manual de instrução. Somos ímpares justamente por nossas histórias peculiares, nossas experimentações incomuns e pela bagagem sempar que carregamos.

Para alguns, somos apenas a compilação de um conjunto pré-estabelecido de padrões reiterados que foram sendo repetidos ao longo de toda a história da Humanidade. É claro que não somos seres inteiramente dissociados desse contexto, mas não podemos com ele ser confundidos. Não somos apenas isso. Pelo menos para mim, definitivamente não somos! Todavia, como meus postulados não encerram a verdade absoluta, termino com uma reflexão pessoal e intransferível:  Você é bolo comum?

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

OS DESAFIOS DO AMOR


Por que teu olhar liberta?
Por que me enfeitiçou desse jeito?
Por que tua flecha é tão certa?
Por que esse aperto em meu peito?

Por que me perco em pensamentos?
Por que só sigo teus passos?
Por que há o teu brilho no firmamento?
Por que temo o fracasso?

Por que suplico tua atenção?
Por que entrego minha alma?
Por que desbaratino meu coração?
Por que perco minha calma?

Por que não entendo o Amor?
Por que renuncio à razão?
Por que esperar é dor?
Por que és a solução?

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

PERVERSA ANSIEDADE


Ah, esse jeito canhestro
Essa visão torta do mundo
Sinfonia sem maestro
Sofrimento profundo
  
Carrascos pensamentos reiterados
Máscara negra da ansiedade
Retratos não revelados
Um quarto sem claridade
  
 Todavia, viver não é exato
Entrego-me, então, ao daqui pra frente
Esmero-me no sensato
E fujo do descrente
  
Escolho abraçar a esperança
Abandono as dores sem causa
Prefiro apostar na mudança
A padecer num martírio sem pausa