quarta-feira, 1 de agosto de 2012

UM DESENCONTRO REAL

                       
                         Desejando percorrer com os cinco sentidos aquele espectro de possibilidades, não deixava o pássaro partir, mesmo admirando seu voo. Aquela tez branca, os olhos de esmeralda e as finas madeixas multicor, emolduradas pelos sopros de Deus, davam à causa uma complexidade ainda mais tônica. Se pudesse escolher, certamente se vestiria com aqueles trajes rebeldes e despretensiosos; entraria naquela cápsula arredia sem data marcada para retorno, mordiscando-lhe as orelhas, respirando junto a sua nuca e perdendo o eixo na comissura de seus lábios. Foram anos e anos teclando amenidades, intimidades, amores e desencontros. Vicente bem que tentara, mas Cecília nunca lhe concedeu um encontro real. Assim, foi condenado a se alimentar de um sonho desiludido, vivendo a realidade paralela das sensações idealizadas, da sintonia perfeita. E Cecília? Bem, Cecília continuou a caminhar pra frente, tanto quanto Vicente, embora jamais tenha privado seus olhares do vasto e colorido campo de visão lateral.