Desejando
percorrer com os cinco sentidos aquele espectro de possibilidades, não deixava
o pássaro partir, mesmo admirando seu voo. Aquela tez branca, os olhos de
esmeralda e as finas madeixas multicor, emolduradas pelos sopros de Deus, davam
à causa uma complexidade ainda mais tônica. Se pudesse escolher, certamente se
vestiria com aqueles trajes rebeldes e despretensiosos; entraria naquela
cápsula arredia sem data marcada para retorno, mordiscando-lhe as orelhas,
respirando junto a sua nuca e perdendo o eixo na comissura de seus lábios.
Foram anos e anos teclando amenidades, intimidades, amores e desencontros.
Vicente bem que tentara, mas Cecília nunca lhe concedeu um encontro real.
Assim, foi condenado a se alimentar de um sonho desiludido, vivendo a realidade
paralela das sensações idealizadas, da sintonia perfeita. E Cecília? Bem,
Cecília continuou a caminhar pra frente, tanto quanto Vicente, embora jamais
tenha privado seus olhares do vasto e colorido campo de visão lateral.