A todo
instante, a vida nos surpreende com situações inusitadas. Muitas vezes,
discutimos, brigamos, aborrecemo-nos, decepcionamo-nos e, no momento seguinte,
arrependemo-nos, perdoamos, fazemos as pazes. Elaboramos conceitos complicados
sobre coisas e pessoas e, simplesmente, mudamos de opinião. Abandonamos cursos,
acabamos namoros, engatamos novos relacionamentos, tiramos pedras do caminho,
perdemos pessoas queridas, fazemos amigos e também os deixamos partir. Tudo isso faz de nossa experiência um caso isolado, uma trajetória sem precedentes, um caminho trilhado a partir dos nossos erros e acertos.
Somos seres
absolutamente distintos vivendo em um mundo feito sob uma medida específica –
“tamanho único”. Assim, modelamos nossa natureza primitiva e até conseguimos
racionalizar nossos instintos, como forma de tentar conviver socialmente em um
espaço sem variações – “P”, “M” ou “G”. Mas viver transcende os limites da
razão.
Mesmo sendo
educados para viver em conformidade com uma série interminável de ditames
sociais, quebramos regras, excedemo-nos, violamos princípios, esquecemo-nos de
pensar no próximo e ultrapassamos as fronteiras da moral e da ética. Ok! Somos, segundo os valores cristãos,
pecadores, pois não conseguimos viver em harmonia com aqueles mandamentos que,
antes de figurarem como máxima religiosa, representam verdadeiras normas de
conduta, regras do bom viver.
Pecamos sim, é
verdade. No entanto, nossos pecados não são análogos, uma vez que somos seres
diferentes pela própria natureza. Não carregamos a mesma carga genética, não
fomos criados pela mesma família, não estudamos no mesmo colégio, não tivemos
os mesmos amigos, não levamos os mesmos tombos, não quebramos a cara com as
mesmas coisas.
Assim, toda
teoria que generaliza demais fraqueja! Sim, repetimos comportamentos, mas isso
não nos torna iguais. Respiramos, alimentamo-nos, bebemos água, excretamos e secretamos
substâncias, dormimos, eliminamos gases, suamos, amamos, desamamos, choramos,
sorrimos, nascemos e vamos morrer um dia. Ainda assim, não somos seres
idênticos.
Por tudo isso
(e muito mais), abomino os comentários genéricos, pois levam sempre ao geral, a
características/elementos/teses supostamente universais. Se a verdade se resumisse a essa aparente
simplicidade, viveríamos vidas previsíveis e medíocres; todos os cachorros
seriam amigos, todos os gatos traiçoeiros, todas as mulheres interesseiras,
todos os homens “galinhas”, todos os homossexuais extravagantes, todos os
políticos corruptos e todas as guerras seriam santas.
Qual graça
teria a vida? Viver assim eliminaria a nossa essência de singularidade;
seríamos produzidos em série, com extensos códigos de barra e um único manual
de instrução. Somos ímpares justamente por nossas histórias peculiares, nossas
experimentações incomuns e pela bagagem sempar que carregamos.
Para alguns,
somos apenas a compilação de um conjunto pré-estabelecido de padrões reiterados
que foram sendo repetidos ao longo de toda a história da Humanidade. É claro
que não somos seres inteiramente dissociados desse contexto, mas não podemos com
ele ser confundidos. Não somos apenas isso. Pelo menos para mim, definitivamente
não somos! Todavia, como meus postulados não encerram a verdade absoluta,
termino com uma reflexão pessoal e intransferível: Você é bolo comum?
Um comentário:
Texto questionador para ler e reler ;)
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